sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Eu e minhas letras

"Quero um pouco mais desse seu amor"
Seu Jorge


Eu já escrevi muitos textos pra você. Até algum tempo atrás você ainda tinha guardadas no fundo do seu armário as cartas que eu mandei quando ainda éramos namorados, apenas. Hoje somos mais. Já escrevi cartas que nunca mandei. Você sempre esteve presente na maioria das linhas dos meus cadernos e nas entrelinhas de quase tudo que escrevi aqui. E olha que engraçado, eu que não sou muito de fazer a mesma coisa por muito tempo, não me canso dessa mania de colocar pedacinhos seus nas minhas palavras. Lá se vão mais de dez anos e você continua presente, enfeitando meus parágrafos desconsertados. 

Deve ser porque você é realmente especial.Você consegue roubar a cena, a cama, o lençol, a toalha e o chinelo. Eu finjo que fico brava, mas a verdade é que eu amo saber que você foi até a cozinha buscar água pra gente com meu chinelo da TPM. Eu amo dividir o lençol com você e me divirto fazendo seu misto quente de manhã, comprando seu todinho quando você está pra chegar. Por isso eu quero que você venha sempre. Venha muito, cada vez mais, pra perto de mim. Pra roubar meu tempo e me dar de presente as suas mãos nas minhas costas e sua barba no meu peito. 

E hoje deu vontade de escrever mais um texto, pra dizer mais uma vez o que você já sabe. E pra lembrar que eu, meu lençol, meu chinelo, minhas manhas, minhas costas, meu bumbum, minhas manias e todo o resto estamos todos aqui, com saudades. Você pode pegar emprestado sempre que quiser e nem precisa de pressa pra devolver. Aliás, pode levar, é seu. Sou sua. Eu, meu chinelo, minhas costas e minhas letras. Nós amamos você.

sábado, 15 de setembro de 2012

Se atreva





 olhe nos olhos. beije com vontade. toque.
 fale a verdade. cante. dance. mesmo que seja errado, mesmo que seja na frente dos outros. 
coma, mastigue, saboreie. beba. beba mais. beba até secar a sede.
 corra. vá sem pressa, aproveite o caminho. olhe para os lados, ao invés de olhar pra trás.
 observe. mostre-se.
 pinte as unhas de azul. pinte os lábios de rosa. pinte os cabelos da cor que você quiser. 
esqueça o relógio. leve todos os sorrisos. acorde mais cedo. durma mais tarde. 
aproveite seu dia. abuse da sua noite.
 se doer, chore.
 não guarde dentro de você nada que incomode. faça uma faxina. jogue fora aquilo que não te serve mais. abra todas as janelas. despentei-se com o vento.
 tire a roupa. perca o medo. perca a vergonha.
 diga sim.
 viva. 
ame.



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Gosto de fruta



O problema é aquele batom. Se ela não viesse pra cima de mim com aquele batom que deixa a boca dela com jeito de fruta, eu resistiria. Mas ela vem com aquele batom e aqueles cabelos. Aqueles cabelos que ela joga de um lado pro outro antes de beber mais um gole da cerveja. E quando ela resolve que vai me matar, ela me mata mesmo. Ela joga os cabelos, bebe a cerveja e sorri pra mim me pedindo tudo aquilo que eu quero dar, mas preciso esconder. E assim ela vai me matando aos poucos, jogando o cabelo, bebendo a cerveja e ajeitando a calça quando se levanta pra ir ao banheiro retocar o batom. 

Ela coloca as mãos na minha nuca enquanto me olha nos olhos e eu não consigo mais negar nem pra eu mesmo que eu quero aquela mulher. Ah, eu quero aquela mulher sim! E aí não existe mais nada nesse mundo, eu só quero beijá-la. Ela sobe em cima de mim com aquele corpo que eu não sei medir. Eu não sei onde tocar. É tudo tão macio nela, parece que a sua cintura foi feita sob medida pras minhas mãos. E eu fico perdido entre tudo o que eu quero pegar, tudo o que eu quero beijar, tudo o que eu quero morder. 

E de vez em quando eu paro pra prestar atenção nas coisas que ela fala. Ela ri de mim descaradamente. Ela não tem vergonha de dizer que me detesta, mas que ama me provocar. Eu fico aflito porque ela deixa claro, em todas as entrelinhas que pode ser a última vez que ela vai querer beijar a minha boca. E aí eu só consigo agarrá-la, com toda a vontade do mundo e cheio de medo de que ela se levante e peça pra ir embora. 

Mas ela fica. Ela se amolece no meu peito e fica. Ela me acaricia, me beija e joga os cabelos em cima de mim, me pede dengo. A noite passa e entre um suspiro e outro ela me abraça e diz que me adora, sonolenta. E na manhã seguinte, mesmo sem aquele batom, ela me beija e me provoca quando diz tchau. E deixa aquele gosto de fruta em mim. 


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Coisa de gente grande




De todas as minhas nostalgias, a que perdura é a da inocência. Talvez porque seja aquela inocência gostosa umas das coisas que o tempo e a vida me roubaram de uma forma mais cruel, tão definitiva. Dá saudade de quando eu sabia saborear um algodão doce sem pressa, sem medo, sem culpa. Dá saudade de quando eu só precisava fazer as contas da prova de matemática, que mesmo com dificuldade, de um jeito ou de outro eu me livrava disso. Dá saudade de quando não era necessário se preocupar tanto. E sobrava mais tempo pra sonhar. 

Disse hoje a um amigo que é difícil não racionalizar tanto as coisas aos 25 anos. Penso, logo desisto. E é por isso que não me arrependo de ter agido bem mais que pensado aos 15 anos. Como era bom fazer as coisas por elas mesmas, sem sofrer tanto com as consequências que ainda estavam por vir. Como era bom seguir os desejos e saber aproveitar o gosto de cada um deles, o máximo que pudesse. 

Eu fui aprendendo aos poucos a pensar muito. Fui vendo que as coisas são mais sérias do que parecem. E confesso que às vezes levo a sério demais essas coisas que eu aprendi. Fui preenchendo minha vida de coisas adultas e me distanciei demais da criança alegre que eu tinha dentro de mim. Aquela menina que não precisava de muito mais do que as bolinhas de sabão. Hoje eu vejo que estou me tornando uma adulta que vive medindo sonhos. Fazendo cálculos com as expectativas com todo o cuidado de não se decepcionar e de não frustar os outros. E de repente bate uma sensação de que está tudo errado, de que eu posso ser melhor do que isso. E de que eu nem preciso de tanto. E de que ser feliz não precisa dar tanto trabalho. 

Talvez eu só precise de verdade de um bambolê, um copo com água e sabão e um canudinho. Depois disso, o sorriso no rosto vem de graça. E é muito mais sincero.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu gosto de você



Eu concorco com você. A gente não pode mesmo desistir antes de tentar. Então vamos lá. Eu vou tentar te explicar. Eu disse que tenho te visto com outros olhos. A vida inteira eu te vi como irmão. Aquele irmão mais velho que eu não tive. Por que eu queria tanto um irmão mais velho? Devia ser pra ficar meio que no lugar do pai que meio que eu não tive. Você entende né? Eu sei que você entende. Porque você entende muita coisa de mim. Tá vendo por que eu via você como irmão? Exatamente por isso: porque você me entende. Ás vezes você complica. Confunde as justificativas dos meus nãos com desculpas. Mas eu juro, sempre fui sincera com você. Mesmo que isso fosse difícil e que pudesse de alguma forma nos afastar, eu sempre disse a verdade. 

Só que chegou um momento que eu, sinceramente, não esperava. Um momento em que eu preciso ter ainda mais coragem pra dizer a verdade. Até porque eu ainda não descobri essa verdade por inteiro. Estou sempre tentando sair de fininho, vendo se ela me erra. Porque de repente eu comecei a te olhar de canto de olho. Fiquei uns três segundos medindo seus passos, reparando seus traços. Parei de olhar. Voltei a minha atenção pra outras coisas. Olhei de novo. Notei alguns detalhes que eu não conhecia. Parei outra vez. E nessas olhadas, eu fui vendo cada vez uma coisa diferente, uma coisa legal. Eu já sabia disso, mas eu soube de uma forma diferente que eu gosto de você. 

Eu só não quis saber até onde. Até quando, quanto? Não importa. Eu não preciso fazer disso uma canseira. Deixa eu só ver seu sorriso e rir do brilho dos seus olhos. Deixa eu só ficar medindo o seu corpo delicadamente, sem que as pessoas desconfiem de nada. Nós sempre fomos um segredo. Esse é o nosso segredo. Então pra que descobrir as coisas? Pra que perder o sabor que improvável nos dá? Prefiro continuar assim, até qiuando tiver que ser. Até o dia em que eu puder sem medo olhar bem nos seu olhos. Por enquanto é só isso que eu tenho a dizer: eu gosto de você. 


terça-feira, 22 de maio de 2012

"E eu que já não sou assim, muito de ganhar..."



Ontem eu tive sorte, ganhei! Ganhei uma noite especial. Ganhei mais alguns daqueles momentos que a gente guarda dentro de uma caixinha, lá no fundo da nossa memória. Aquela caixinha onde estão as coisas mais lindas que me aconteceram nessa vida.

Eu sabia que eu ia amar. Sabia que eu ia sorrir, pular, gritar. Tinha certeza que me emocionaria. Mas mesmo assim, foi melhor do que eu poderia imaginar. Foi lindo, lindo, lindo! Não adianta eu ficar aqui tentando buscar palavras bonitas pra descrever a emoção e a alegria em vê-los no palco mais uma vez, depois de 6 anos. Não adianta, não vou conseguir.

Durante o show, Marcelo Camelo nos agradeceu pela presença. Eu pensei: nós é que temos que agradecer a vocês! Só quem estava lá vai entender o que estou falando. A energia daquele show foi uma coisa surreal.
Agora eu fico aqui suspirando e lembrando de cada passinho do Amarante, das imagens lindas no painel no fundo do palco, da galera indo à loucura, do sorriso lindo de satisfação no rosto do Barba enquanto ouço as canções mais lindas do mundo e espero ansiosa pelo próximo encontro.

Ouvi dizerem por aí que os fãs do Los Hermanos são os segundos mais chatos do mundo, perdendo apenas para os do Chico Buarque. Eu não entendo muito disso. Mas o que eu vi foi uma galera que cantou muito e em plena segunda-feira lotou o Chevrolet Hall em Belo Horizonte. Se somos chatos? Não sei, podemos até ser. Mas de uma coisa tenho certeza, a despeito do que dizem, somos muito FELIZES!


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Conta-Gotas



Resposta, eu já sabia que não ia ter. Conheço você o bastante pra saber que não seria diferente das outras vezes. Amo você o bastante pra entender que continuará não sendo diferente. Mas mesmo assim escrevi. Mesmo assim eu tentei me abrir, evitei guardar mais uma mágoa. Preferi tentar adiar por mais um tempo que o copo transbordasse de uma forma que não fosse possível suportar.

Não sei o quanto você conhece de mim. Suponho que seja o bastante pra que saiba que eu espero suas respostas. E hoje, mais do que antes, se eu resolvo falar é porque espero MESMO. Por mais que eu saiba que elas não vão chegar, eu continuo esperando. Mas dessa vez eu esperava outra coisa, não sei se menor ou maior que uma resposta. Eu esperava compreensão. Eu esperava que você conseguisse fazer aquele exercício complicado de tentar enxergar o outro. Eu esperava que você entendesse o sentido de cada uma daquelas poucas palavras que escrevi. 

Mas a gente tem mesmo essa mania feia de esperar demais dos outros. Eu aqui esperando uma resposta sua. Esperando que você me dissesse apenas "tá tudo bem, eu te amo". Não que isso fosse resolver as coisas, mas um carinho seu já me confortaria. Um abraço seu me traria a segurança que nessas horas eu não consigo encontrar. E você daí esperando que eu já tivesse nascido com essa segurança dentro de mim. Esperando que eu não tivesse nenhum dos meus medos ou que não precisasse das suas mãos pra me acalmar.