quarta-feira, 25 de maio de 2011

Os sapatos da vitrine

Chega um momento em que o trabalho passa a ocupar um lugar importante na sua vida. Ele se torna parte fundamental de um processo que envolve tudo. Ele é a atividade mais importante da sua rotina. Afinal, você precisa muito mais dele, do que ele precisa de você. Eu vivo atualmente uma relação de amor e ódio com o trabalho: preciso dele para viver, mas não gosto do que faço. Acho que gosto menos ainda dessa dependência que o trabalho exerce sobre mim. Não sei me explicar bem. 

O fato é que agora que descobri que o trabalho existe, está aqui todos os dias e assim será pro resto da minha vida, tenho que decidir o que fazer com ele. Ele é o parceiro que irá me acompanhar independente da minha vontade. Afinal de contas, não nasci rica, não herdei nenhuma fortuna capaz de me sustentar e nem fui ganhadora da Mega-Sena - e estou longe de ser, porque nem jogo. Portanto, só me resta escolher (ou pelo menos tentar) qual vai ser o tipo de companheiro que eu terei, se não pelo resto, por um bom tempo na minha vida. E essa consciência, eu só tenho agora, depois de ter passado por mais da metade de uma graduação, ter parado de estudar porque comecei a trabalhar e estar prestes a retornar aos estudos e concluir minha escolha.

Parece que ganhei uma nova chance. Do destino, sei lá de quem, de mim mesma, mas ganhei uma nova chance de escolher. O que fazer? Agora, 5 anos depois de minha primeira escolha diante de um vestibular, as dúvidas são outras. Não é sobre o curso em si que eu tenho pensado. Mas sim sobre a profissão a que ele leva. E como não pensar na remuneração? Dinheiro é mais que necessário. É essencial, infelizmente. 

Eu, que não sou apaixonada por nada, fico perdida. Quero um trabalho que possa me dar oportunidades de encontrar felicidade e realização em outros campos, além dele próprio. Um trabalho que possa me dar o direito de fazer um curso de línguas, de viajar nas férias, de ir ao cinema, ao teatro, ao show bacana que vai ter no fim-de-semana, de comprar um bom presente pra minha mãe no seu aniversário, de frequentar uma boa academia, de continuar fazendo curso de teatro, de pagar as prestações do financiamento de uma casa, de juntar grana pra comprar um carro, de fazer uma previdência privada, construir uma família, dar uma boa educação ao meu filho, decorar o quarto do bebê com girafas, elefantes, macacos e zebrinhas e, enfim, comprar os sapatos da vitrine. 

Será que estou querendo demais? 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"É quando a gente faz algum sentido"

existe aqui uma urgência. tenho me sentido como uma ambulância em alta velocidade, luzes piscando e sirene ligada. não quero ter que pedir licença. quero entrar, quero sair. quero seguir adiante. eu quero enlouquecer. 

preciso parar de descontar em notas ficais espalhadas pelas minhas bolsas toda essa necesidade absurda de sair por aí. essa vontade de ser tantas coisas. de comer de todos os pratos. de beber de todas as fontes. esse meu desejo ardente de sair à noite e cantar todas as músicas. de aplaudir, festejar, comemorar, celebrar, brindar. 

estou cheia de ficar sentada. de navegar, apenas, sem conseguir sentir o sabor das coisas. estou cheia de entrar em ônibus. de acordar sempre no mesmo lugar, depois de tantos sonhos com tantos outros lugares.

eu estou cansada. meu corpo precisa de alguma coisa. não aguento mais tantos números. tantas obviedades. não quero chegar a nenhuma conclusão exata. e chega de fazer tantos planos. faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. porque é que a gente precisa sempre ser sensata?

eu preciso do remédio da loucura. estou doente de tanta sanidade. 


o título foi roubado da Jaya, 
que com um comentário apertou um botão em mim 
que deixou tudo aqui assim.