sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Gosto de fruta



O problema é aquele batom. Se ela não viesse pra cima de mim com aquele batom que deixa a boca dela com jeito de fruta, eu resistiria. Mas ela vem com aquele batom e aqueles cabelos. Aqueles cabelos que ela joga de um lado pro outro antes de beber mais um gole da cerveja. E quando ela resolve que vai me matar, ela me mata mesmo. Ela joga os cabelos, bebe a cerveja e sorri pra mim me pedindo tudo aquilo que eu quero dar, mas preciso esconder. E assim ela vai me matando aos poucos, jogando o cabelo, bebendo a cerveja e ajeitando a calça quando se levanta pra ir ao banheiro retocar o batom. 

Ela coloca as mãos na minha nuca enquanto me olha nos olhos e eu não consigo mais negar nem pra eu mesmo que eu quero aquela mulher. Ah, eu quero aquela mulher sim! E aí não existe mais nada nesse mundo, eu só quero beijá-la. Ela sobe em cima de mim com aquele corpo que eu não sei medir. Eu não sei onde tocar. É tudo tão macio nela, parece que a sua cintura foi feita sob medida pras minhas mãos. E eu fico perdido entre tudo o que eu quero pegar, tudo o que eu quero beijar, tudo o que eu quero morder. 

E de vez em quando eu paro pra prestar atenção nas coisas que ela fala. Ela ri de mim descaradamente. Ela não tem vergonha de dizer que me detesta, mas que ama me provocar. Eu fico aflito porque ela deixa claro, em todas as entrelinhas que pode ser a última vez que ela vai querer beijar a minha boca. E aí eu só consigo agarrá-la, com toda a vontade do mundo e cheio de medo de que ela se levante e peça pra ir embora. 

Mas ela fica. Ela se amolece no meu peito e fica. Ela me acaricia, me beija e joga os cabelos em cima de mim, me pede dengo. A noite passa e entre um suspiro e outro ela me abraça e diz que me adora, sonolenta. E na manhã seguinte, mesmo sem aquele batom, ela me beija e me provoca quando diz tchau. E deixa aquele gosto de fruta em mim. 


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Coisa de gente grande




De todas as minhas nostalgias, a que perdura é a da inocência. Talvez porque seja aquela inocência gostosa umas das coisas que o tempo e a vida me roubaram de uma forma mais cruel, tão definitiva. Dá saudade de quando eu sabia saborear um algodão doce sem pressa, sem medo, sem culpa. Dá saudade de quando eu só precisava fazer as contas da prova de matemática, que mesmo com dificuldade, de um jeito ou de outro eu me livrava disso. Dá saudade de quando não era necessário se preocupar tanto. E sobrava mais tempo pra sonhar. 

Disse hoje a um amigo que é difícil não racionalizar tanto as coisas aos 25 anos. Penso, logo desisto. E é por isso que não me arrependo de ter agido bem mais que pensado aos 15 anos. Como era bom fazer as coisas por elas mesmas, sem sofrer tanto com as consequências que ainda estavam por vir. Como era bom seguir os desejos e saber aproveitar o gosto de cada um deles, o máximo que pudesse. 

Eu fui aprendendo aos poucos a pensar muito. Fui vendo que as coisas são mais sérias do que parecem. E confesso que às vezes levo a sério demais essas coisas que eu aprendi. Fui preenchendo minha vida de coisas adultas e me distanciei demais da criança alegre que eu tinha dentro de mim. Aquela menina que não precisava de muito mais do que as bolinhas de sabão. Hoje eu vejo que estou me tornando uma adulta que vive medindo sonhos. Fazendo cálculos com as expectativas com todo o cuidado de não se decepcionar e de não frustar os outros. E de repente bate uma sensação de que está tudo errado, de que eu posso ser melhor do que isso. E de que eu nem preciso de tanto. E de que ser feliz não precisa dar tanto trabalho. 

Talvez eu só precise de verdade de um bambolê, um copo com água e sabão e um canudinho. Depois disso, o sorriso no rosto vem de graça. E é muito mais sincero.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu gosto de você



Eu concorco com você. A gente não pode mesmo desistir antes de tentar. Então vamos lá. Eu vou tentar te explicar. Eu disse que tenho te visto com outros olhos. A vida inteira eu te vi como irmão. Aquele irmão mais velho que eu não tive. Por que eu queria tanto um irmão mais velho? Devia ser pra ficar meio que no lugar do pai que meio que eu não tive. Você entende né? Eu sei que você entende. Porque você entende muita coisa de mim. Tá vendo por que eu via você como irmão? Exatamente por isso: porque você me entende. Ás vezes você complica. Confunde as justificativas dos meus nãos com desculpas. Mas eu juro, sempre fui sincera com você. Mesmo que isso fosse difícil e que pudesse de alguma forma nos afastar, eu sempre disse a verdade. 

Só que chegou um momento que eu, sinceramente, não esperava. Um momento em que eu preciso ter ainda mais coragem pra dizer a verdade. Até porque eu ainda não descobri essa verdade por inteiro. Estou sempre tentando sair de fininho, vendo se ela me erra. Porque de repente eu comecei a te olhar de canto de olho. Fiquei uns três segundos medindo seus passos, reparando seus traços. Parei de olhar. Voltei a minha atenção pra outras coisas. Olhei de novo. Notei alguns detalhes que eu não conhecia. Parei outra vez. E nessas olhadas, eu fui vendo cada vez uma coisa diferente, uma coisa legal. Eu já sabia disso, mas eu soube de uma forma diferente que eu gosto de você. 

Eu só não quis saber até onde. Até quando, quanto? Não importa. Eu não preciso fazer disso uma canseira. Deixa eu só ver seu sorriso e rir do brilho dos seus olhos. Deixa eu só ficar medindo o seu corpo delicadamente, sem que as pessoas desconfiem de nada. Nós sempre fomos um segredo. Esse é o nosso segredo. Então pra que descobrir as coisas? Pra que perder o sabor que improvável nos dá? Prefiro continuar assim, até qiuando tiver que ser. Até o dia em que eu puder sem medo olhar bem nos seu olhos. Por enquanto é só isso que eu tenho a dizer: eu gosto de você.