terça-feira, 21 de junho de 2011

Rita de Cássia

A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
 
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
 
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
 
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão

A Rita - Chico Buarque

Foi ela quem me ensinou a escrever. Era ela quem me arrumava toda, me vestia de princesa com vestidos engomados e insistia em enfeitar meus cabelos arrepiados com lacinhos de cetim. Foi ela quem me ensinou a ler. Eu gosto tanto de ouvir dela as minhas estórias de criança, das minhas poucas desobediências e dos seus mimos, infinitos e desmedidos. Ela é a tia Rita, que também é mãe, além de ser madrinha - mamãe-titia

Fomos cúmplices e dividimos segredos sem precisar de palavras para nos entendermos. Eu me lembro dela quando penso em carnaval. Porque ela fez sem saber, a alegria dos meus primeiros e até os meus últimos, eu sei que terei nela a inspiração pra me fantasiar e desfrutar dessa "alegria fulgaz". 

Foi através dela que eu conheci meu primeiro namorado, com quem rolou o primeiro beijo. Foi ela quem me deu meu primeiro sutiã. Foi com ela que eu aprendi a escrever segredos em uma agenda - e foi ela quem me deu a minha primeira. Foi ela também quem me deu minha primeira cartela de anticoncepcional e me ajudou a esconder o segredo da minha mãe.

E se eu for falar o quanto ela é especial pra mim e citar todos os momentos em que ela foi fundamental na minha vida - desde o meu nascimento - vou acabar contando aqui minha vida inteira, porque ela fez (e continuará fazendo, espero) parte de todos os passos que eu dei. Esteve ao meu lado, me inspirando, em todos os momentos de transição, principalmente. E eu tenho certeza de que sempre torceu pela minha felicidade. Sem nunca ter me cobrado nada, sem nunca ter me atirado nenhuma pedra. E é por isso que eu me recuo quando penso em lhe atirar alguma, mesmo quando a vontade é grande. 

Me orgulho de suas transformações positivas e sei que ela pode ser ainda melhor a cada dia. E continuará sempre, sendo a minha inspiração. Mesmo hoje não estando mais tão próximas fisicamente, sei que tenho nela uma amiga especial e verdadeira, um carinho sincero e ela pode encontrar em mim uma amiga, afilhada, sobrinha e eterna fã. 

Parabéns pelo seu aniversário, tia Rita!
Te adooooro!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

curta metragem nº1 - Nadir e a bola

Uma série de pequenas imagens que serão guardadas pra sempre. 

Eu tinha 6 anos. Entre as brincadeiras favoritas, além das comidinhas de barro enfeitadas com rosas, estava a bola de borracha. Eu jogava vôlei sozinha. Aliás, jogava vôlei com a parede. A parede era minha parceira e minha adversária.

- Pára com essa bola! 

Eu nem escutava. Queria fazer pontos. Não me cansava. Gostava de sentir a bola encostando quente na palma de minhas mãos. Não queria obedecer a minha avó.

- Pára com essa bola!

E aí a Nadir chegou no beco. Eu nunca gostei daquela mulher gorda, loira de olhos azuis que insistia em enfiar o nariz onde não era chamada. 

- Carolina, me dá a bola. Eu não vou entregar pra sua vó, prometo.

- Não, você vai dar pra ela e ela vai jogar no rio, eu sei. 

- Não vou, prometo. Me dá a bola aqui! 

Não me lembro se foi por medo, mas acabei lhe entregando a bola. A Nadir a pegou e, com a mão que estava escondida, deu-lhe um golpe de faca, rasgando sem dó toda a minha inocência de criança. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Música cura

Estive mal. Cólicas, enjoos, vômitos e diarréia. Acredita que eu não conseguia comer? Parece loucura eu não conseguir comer. 

Tomei remédios. Água-de-coco mesmo sem gostar. Gatorade mesmo sem gostar. Soro na veia. Chá mate. Biscoito de água e sal. Batatinha cozida com arroz e carne moída, quase sem tempero nenhum. 

E aquela cara de quem vai vomitar o mundo, eu ainda via no espelho. E aquela dor na barriga de quem tem um monstro louco dentro de si, eu ainda sentia. 

Mas aí ele veio e me levou pra ouvir. Uma horinha de música boa e eu já estou me sentindo quase ótima. 

Santo remédio!