"Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem."
Fernando Anitelli
Fernando Anitelli
Eu não consegui largar o celular. Lia a mensagem toda hora. Lia, sorria, fechava os olhos, sentia o coração apertando, lia denovo, e assim por diante. Não conseguia chegar a nenhuma resposta. Nem conseguia saber ao certo o que eu estava sentindo com tudo aquilo. Na verdade, desde o dia em que ele se mostrou "ocupado" demais pra me ver, após ter ido aos poucos esquecendo todo aquele carinho e aquela adimiração inicial que tinha pela minha pessoa e se mostrando cada vez menos interessado, eu sabia que esse dia iria chegar. O dia em que eu teria a chance de escolher.
Sim, porque quando eu tive crises de ciúme sem sentido e me mostrei do avesso pra você, eu não tive escolha. Quando eu passei dias e dias fazendo de minha esperança em te ter pra mim, a razão da minha vida, não pude decidir que era aquilo que eu realmente queria. Quando eu te ligava antes de dormir só pra ouvir sua voz e depois fechar os olhos pensando no seu jeitinho fofo de falar, não tinha domínio sobre minhas vontades. Estava cega. Completamente cega. Do jeito que as mulheres costumam ficar, quando se apaixonam.
E só eu sei como doeram os machucados do tombo que eu levei, quando recebi aquela mensagem, dizendo que estava "ocupado". E foi assim mesmo, entre parênteses. Mas foram apenas arranhões. Tratei de curá-los com beijos quentes, pegadas fortes, puxões de cabelo, susurros de "cachorra" no ouvido, goles e mais goles do veneno que tanto me agrada. Agora já passou. E nem quero saber das cicatrizes.
Hoje, eu posso escolher. Tenho em minhas mãos o poder de decidir se me entrego agora à sua cafajestagem enrustida ou me "ocupo" com outra coisa mais interessante. Ou menos, porém mais saudável. Tá bom, talvez nem tão saudável.
Então eu me esmago toda por dentro e respondo que marquei um cinema com minha amiga, apesar de estar na frente da tv com uma panela de brigadeiro, assistindo a mais uma comédia romântica.