sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Nós e os vinte poucos

*Texto inspirado no post perfeito da Frau, que pode ser lido aqui.

"Nem por você
Nem por ninguém
Eu me desfaço
Dos meus planos
Quero saber bem mais
Que os meus 20
E poucos anos..."

Fábio Jr. 



Além da queimação no peito, existe o nó na garganta. Porque algumas coisas ainda não conseguimos digerir bem. Na pressa, não mastigamos corretamente ou tivemos que trocar muito cedo a comidinha da mamãe pelas porcarias que engolimos por aí entre o trabalho e a faculdade.

Há alguns anos atrás, nessa idade, com a qual o meu querido Fábio Jr. se encheu de ilusões e, de tabela, me encheu também, nós éramos outras e os nós, claro, eram outros também. Estaríamos com duas prováveis preocupações nos fazendo sentir arder o peito: se sortudas, o enxoval e a lista dos convidados; em outros casos, o pedido de noivado. 

O tempo passou, o que tinha que mudar mudou, e o improvável aconteceu: nós agora ardemos por outros motivos - o que não implica, em alguns casos, por sorte ou por azar, a falta daquele outro antigo, desgastado, escasso, porém ainda não totalmente esquecido: o casamento. Os nós agora são sentidos de forma mais violenta e com mais frequência. E se contamos com as mesmas 24 horas para dar conta de tudo e mais um pouco, as queimações no peito na madrugada são mais incidentes. 

Hoje, as propagandas dos últimos lançamentos de carros ou das mais novas tecnologias da informática dividem a nossa atenção com os comerciais de margarina. Chegamos a um ponto em que se instala sobre as nossas cabeças uma nuvem de interrogações. O peso de tantos questionamentos em nossas costas compete com a dor nos pés depois de um dia inteiro em cima do salto alto. Nossos corpos estão cansados. Renovamos nossas energias no impulso da busca de nossas conquistas. Estamos a caminho dos 30 e quais de nós não pretende chegar lá absolutamente poderosas? 

Temos a chance de dar a palavra final e o acesso aos meios para conquistar o que é nosso. Mas conquistar o quê, afinal? Por enquanto, no auge dos meus vinte e poucos anos, a única certeza é a de que tenho mais possibilidades de escolha. Porém, quanto maiores as possibilidades, maiores são as interrogações sobre a nossa cabeça. E elas pesam. Ah, como pesam! 


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sobre coragem

Na semana passada, estivemos falando no Meninas Improváveis sobre sonhos e eu escrevi esse post aqui. O tema é extremamente forte pra mim e pra não complicar demais as coisas, tentei resumir tudo em um parágrafo, definindo como um ciclo vital o processo sonhar-acreditar-viver-realizar. Talvez o "viver" e o "realizar" não ocupem uma sequência exata, podendo sofrer uma inversão, dependendo do momento. Mas o fato é que sonhar está completamente ligado a viver, na minha concepção filosófica de vida e de sonho. 

O grande problema pra mim, pisciana, idealizadora, cabeça nas nuvens, sempre foi assumir isso. Assumir que tenho sonhos. E um outro problema, que sempre andou de mãos dadas ao primeiro era a minha mania louca e absurda de dimensioná-los, tentando fazer uma associação ridícula entre o tamanho do sonho e a possibilidade de sua realização. Eu seguia uma (i)lógica de que quanto maior, mais difícil. Ou até mais impossível. 

Talvez um bom terapeuta pudesse descobrir o porque logo eu, tão sonhadora, morria de medo de sonhar. E ainda porque eu estou aqui tentando racionalizar isso tudo. Logo eu, que sempre fui mais de coração do que razão, por muito tempo fui capaz de usar a cabeça, ignorando as batidas do meu coração e priorizando questões racionais, quando tratava de meus sonhos. Eu mesma fui criando, um a um, todos os obstáculos que podia para me afastar do que eu realmente queria. E do que idealizo antes de dormir. Meus sonhos sempre foram os meus maiores segredos. Só falo neles com as pessoas de meu convívio pessoal em tom de brincadeira, numa tentativa de não revelar a ninguém, por vergonha, talvez. Como é que pode, uma menina do interior, que estudou em escola pública, cuja família teve que abidicar de seus sonhos em prol de suas responsabilidades, pensar que um dia poderia escrever um artigo pra uma revista? E que poderia viajar a trabalho, pra fazer uma matéria? Ou que poderia subir ao palco para representar um personagem? É, até podia, sim. Mas apenas em segredo. Apenas nos delírios noturnos que antecedem as projeções do inconsciente. 

Antes de assumir meus sohos pro mundo, existia um degrau mais alto ainda. Escorregadio, também. A grande dificuldade de assumir pra eu mesma. Porque os outros podem rir. Podem xingar. Podem ignorar. Enfim, a reação deles é apenas problema deles, não é problema meu. Mas a minha reação é o que relamente importa, o que realmente interessa. Porque sonhar acordado com a carreira ou com o futuro que quer, todo mundo faz, já fez ou fará um dia. O desafio é aceitar. Acreditar e assumir que é isso aí e pronto. E escolher se vai continuar nas nuvens ou vai resolver colocar os pés no chão, na rua e seguir o caminho, seja ele qual for. 

Hoje eu resolvi assumir o que eu quero. Marquei a opção que meu coração pediu. Pode ser que eu não consiga, pode ser que eu não dê conta, pode ser, inclusive, que eu tenha escolhido a opção errada. Mas eu escolhi. E prefiro me lamentar no futuro por ter errado ou não ter conseguido, do que viver me lamentando por não ter ao menos tentado. Estou aceitando o desafio. Com as mãos trêmulas e as pernas bambas. Mas com a firmeza de que de alguma forma, há de valer a pena.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Na nossa estante

Durante esses quase dez anos, mesmo nos tempos em que estivemos separados, pensei no nosso casamento. Em alguns momentos, consegui vizualizar a gente bem próximo do tradicional, com direito a bombons na porta da Igreja. Em outros, ele me pareceu tão distante que quase cheguei a me conformar com o fato de que, (in)felizmente ele não vai acontecer. Não por falta de vontade nossa, mas por força dos acontecimentos, das distâncias, dos desencontros. E talvez até seja melhor que ele realmente nunca aconteça. Na verdade, a formalização de uma relação pra mim é o que menos importa. O que importa é que eu quero estar com você. E quero que você esteja comigo. 

Eu descobri que eu quero colocar os meus livros, misturados aos seus, na nossa estante. Além dos livros, nossos filmes e discos favoritos. Em frente a ela, um tapete macio e algumas almofadas, onde poderemos nos ler, nos ouvir e nos assistir ali, um ao olhar do outro. Onde nossos filhos poderão brincar e conhecer aos poucos as muitas letras e tantas canções que nos aproximam. 

Eu quero você no nosso álbum de família e nos porta-retratos que estarão junto com nossos livros, na nossa estante.